segunda-feira, 18 de maio de 2009

Documentário resgata ascensão e queda do cantor Wilson Simonal


A história de Wilson Simonal (1939-2000) no cenário da música popular brasileira é bem peculiar. Um dos cantores mais importantes da década de 1960 - sua fama chegou perto da de Roberto Carlos, após se envolver num episódio confuso, no início dos anos 1970, viu sua carreira ruir e caiu no ostracismo.

O documentário "Simonal - Ninguém sabe o duro que dei", que estreia em São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte e no Recife nesta sexta-feira (15), investiga a ascensão, a queda e tudo o houve por trás dessa história.

Simonal começou sua carreira em bailes do Exército e se consagrou no final da década de 1960. Suas interpretações de músicas como "Meu limão, meu limoeiro" e "País tropical" (de Jorge Ben Jor) caíram no gosto popular, assim como seu programa de televisão, "Show em Si... monal", exibido pela TV Record, famosa pelos festivais que projetaram Chico Buarque, Elis Regina, Caetano Veloso e tantos nomes da MPB.


Como um artista versátil e popular foi abandonado pelos fãs e perseguido pela mídia? Nas palavras do crítico Nelson Motta, o músico "virou um tabu, um leproso, um pária". A explicação não é simples e envolve uma série de motivos, como revela o documentário dirigido por Claudio Manoel (o humorista do "Casseta e Planeta" que interpreta, entre outros, o Seu Creysson), Micael Langer e Calvito Leal.

Um dos fatores, talvez o mais forte, que deu início ao processo, ocorreu por alguma ingenuidade de Simonal. Em 1971, ele desconfiava que seu contador, Raphael Viviani, o roubava, e pediu que um amigo policial lhe desse uma lição. No entanto, os espancadores pertenciam ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), o temido órgão de repressão política, acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar. Para piorar a situação, o inspetor Mário Borges declarou que o cantor era informante da polícia.

Bola de neve

A bola de neve foi aumentando à medida em que órgãos de imprensa, como "O Pasquim", aceitaram tal informação como verdadeira e começaram uma caça às bruxas contra o artista, que perdeu prestígio, amigos e foi perseguido pelo resto da vida.

A surra dada em Viviani rendeu ao cantor, em 1972, uma condenação a mais de 5 anos de prisão, que cumpriu em liberdade. Mas só em 2003 a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o reabilitou simbolicamente, após uma investigação do caso, a pedido da família. Um documento da Secretaria Nacional de Direitos Humanos revelou que não havia nenhuma prova contra Simonal. Mas já era tarde demais, o cantor morrera havia três anos.

"Simonal - Ninguém sabe o duro que dei" reencontra Viviani e colhe o seu depoimento, que, no fundo, acaba complicando até mais a imagem do cantor no caso da surra. O ex-contador do músico alega que foi torturado até assinar uma confissão falsa, pois os agentes do DOPS ameaçavam sua família. Quando a mulher de Viviani deu queixa de seu desaparecimento, o delegado que investigou a questão chegou ao nome de Simonal.

Premiado no 1º Festival de Cinema de Paulínia (melhor documentário pelos júris popular e oficial) e menção honrosa no É Tudo Verdade do ano passado, "Simonal" conta com uma série de imagens de arquivo e depoimentos de pessoas ligadas ao músico, como Pelé, Miele e Tony Tornado.


Extraído do G1

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